Texto da candidatura ao concurso Criatório de Janeiro de 2020
Madeira, fogo, terra, metal, àgua são os cinco elementos da natureza considerados pelos chineses antigos. Cada um deles refere-se a uma estação do ano sendo a Terra o elemento estranho que se refere ao final do verão. Então a madeira refere-se Primavera, o fogo ao Verão, a terra ao fim do verão, metal ao Outono e àgua ao Inverno.
Este é um projecto que pretende nascer a partir do diálogo entre dois sujeitos, um criador de imagens animadas pelo método tradicional em desenho, frame a frame e um músico. O desenhador e animador é o autor do projecto, Vitor Hugo Rocha e o músico convidado é a arpista espanhola residente no Porto Angélica Salvi. O som, a música e a sincronia com a imagem têm vindo a ser elementos regulares e da maior importância no trabalho de Vitor Hugo e continuam a estimular a sua vontade de criação. Por vezes o som promove a criação da imagem, outras vezes o contrário. Desta vez pretende que ambos sejam o gatilho um do outro.
A musicalidade da arpista é por vezes encantatória e hipnótica, explora um universo com repetições e com sonoridades circulares e livres dentro da estrutura da composição que podem ser ideais para despoletar imagens animadas que se pretendem relacionadas com os movimentos da natureza, livres e intuitivos e por ciclos, com as suas estações do ano e com a sua sabedoria que todos os anos se renova. Para os orientais a primavera significa o início de um ciclo novo. “Começa em março-abril quando a vida retoma as suas actividades após a estagnação do inverno. Na primavera os períodos do dia e da noite são iguais. Surgem os primeiros ventos quentes, a neve e o gelo começam a derreter. O caudal dos rios aumenta, nascem as primeiras folhas e a paisagem ganha um tom verde e fresco. É a época das flores, do acasalamento do animais e o momento de iniciar o plantio. Depois ocorre o solstício do Verão na metade superior do planeta. Os chineses consideram o verão o auge, o momento da plenitude. É nessa fase do ano que o hemisfério norte recebe a iluminação máxima do sol, as noites são mais curtas e as noites são mais longas. Depois segue-se o outono e depois o Inverno.
A animação deverá ter cerca de 5 minutos e será emitida por quatro projectores circulando simultaneamente sobre quatro paredes cada uma com cinco metros de comprimento numa caixa onde os espectadores e o músico se situam no centro rodeados das imagens animadas. Essas imagens que são desenhos em tinta preta sobre fundo branco tem o objectivo de abordar a grandeza e o mistério da natureza da qual fazemos parte. E o quanto podemos aproveitar para aprender com ela em cada detalhe do seu movimento.Tudo na natureza está em constante mutação e o funcionamento na perfeição de tudo na natureza à revelia das explicações mais ou menos complexas que possamos encontrar são os motes maiores para o desenvolvimento deste trabalho. É um diálogo próximo do cadáver esquisito dadaísta entre os dois artistas que deverão evocar manifestações da natureza numa construção que deverá recorrer a pequenos loops até alcançar um loop maior e total que acaba com a imagem e som com que a peça se inicia. Procurará conter espaço para a experimentação onde ordem e caos podem ter lugar.
domingo, 8 de março de 2020
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